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O que é a discalculia?

 

A palavra discalculia, deriva dos conceitos dis (desvio) + calculare (calcular, contar)

 

A discalculia é um distúrbio de aprendizagem que interfere negativamente com as competências de matemática de alunos, que noutros aspetos, são normais. Tratando-se assim de uma desordem neurológica específica que afeta a habilidade de uma pessoa compreender e manipular números.

 

Como todos sabemos a matemática é desde sempre considerada uma disciplina de difícil compreensão, sendo que dados estatísticos revelam que a maior parte dos alunos sentem dificuldades  na aprendizagem desta disciplina, não compreendendo o enunciado dos problemas, demorando tempo a perceber se precisam de somar/dividir/multiplicar, alguns não conseguem mesmo concluir uma operação aparentemente simples.

 

Segundo Cruz, é importante ter em conta que estas dificuldades  não podem estar associadas a fatores como a preguiça/desmotivação/desinteresse, como muitos professores/encarregados de educação julgam.

 

 

Devemos ter também em atenção não confundir discalculia com acalculia, uma vez que a segunda refere-se à perca de habilidades matemáticas já antes adquiridas, devido a uma lesão cerebral.

 

 

Segundo Johnson & Myklebust (1991), existe um conjunto de distúrbios que podem interferir na aprendizagem da matemática, sendo eles:

 

-Distúrbios de memória auditiva: Estes distúrbios acontecem quando a criança não consegue guardar os enunciados/dados/factos que lhe são transmitidos oralmente, incapacitando-a de resolver problemas e apresentando assim dificuldades de reorganização auditiva;

 

-Distúrbios de linguagem percetivo-auditiva e aritmética: Estes distúrbios revelam na criança limitações ao nível do raciocínio e vocabulário aritmético, tendo dificuldades em realizar cálculos por não recordar a aparência dos números, trocando por exemplo: "6" pelo "9", "3" pelo "8", "2" pelo "5";

 

-Distúrbios de escrita: Estes distúrbios acontecem numa criança com dificuldades em escrever, não só letras, mas também números, apresentando geralmente também disgrafia.

 

 

 

Subtipos

 

Segundo Ladislav Kocs (1974), existem 6 subtipos, correspondentemente a capacidades e tarefas matemáticas específicas, sendo que podem ocorrer individualmente ou em conjunto.

 

      1.  Discalulia verbal: Dificuldade na nomeação de quantidades matemáticas (números, símbolos, relações);

 

   2. Discalulia pratognóstica: Dificuldade na enumeração, comparação e manipulação de objetos (reais ou em imagens) matemáticamente;

 

    3. Discalculia léxica: Dificuldade na leitura de símbolos/problemas matemáticos, mas que poderá não se revelar ao nível da compreensão/interpretação;

 

      4. Discalculia gráfica: Dificuldade na escrita de símbolos matemáticos;

 

     5. Discalculia ideognóstica: Dificuldade na realização de operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos;

 

     6. Discalulia operacional: Dificuldade na realização de operações e cálculos numéricos

 

 

 

 

Causas

 

Não existe uma única causa que possa justificar o aparecimento da discalculia, uma vez que o desenvolvimento neurológico é caracterizado pelas diferentes funções do sistema nervoso que vão estabelecendo ordenada, progressiva e cronologicamente, ou seja, cada nível etário de maturação que corresponde ao desenvolimento de novas funções, como a perceção, espaço-temporal, lateralidade,ritmo, resultantes de experiências que produzam estímulos adequados.

 

 

Romagnoli (2008), define assim 3 graus de discalculia, sendo eles:

 

      1. Grau leve: Quando a criança discalculática reage favoravelmente à intervenção terapêutica;

 

      2. Grau médio: Que coexiste com o quadro da maioria dos que apresentam dificuldades específicas com matemática;

 

    3. Grau limite: Nas situações em que se verifica a existência de uma lesão neurológica gerada por traumatismos que possam provocar um défice intelectual

 

 

No domínio da linguística, segundo Cazenave (1972), a compreensão matemática só é possível com assimilação da linguagem, que tem um papel fundamental na evolução do intelecto. Estas crianças revelam assim défices na compreensão de relações e também na sua reversibilidade e/ou generalização, apresentam ainda dificuldades na resolução de problemas, mais específicamente no simbolismo numérico (correspondência número-quantidade), bem como a sua representação gráfica.

 

Na área da psicologia,as pessoas portadoras de alterações psíquicas se tornarem mais propensos a apresentar problemas de aprendizagem, pois o aspeto emocional interfere no controlo de determinadas funções, como a memória,atenção e perceção.

 

Na área da genética,aponta-se para a determinação de um gene responsável pela transmissão dos transtornos ao nível dos cálculos. Existem ainda assim registos significativos de antecendentes familiares de crianças com discalculia que também apresentem dificuldades na matemática, os estudos da hereditariedade/genética, necessitam ainda de um maior aprofundamento e aprovação.

 

Na área da pedagogia,aponta-se a discalculia como uma dificuldade diretamente relacionada com fenómenos que sucedem no processo de aprendizagem, como por exemplo, os métodos de ensino desadequados e inadaptação à escola, entre outros.

 

 

 

 

Sinais de alerta

 

Existem uma série de alertas que podem ajudar a confirmar a discalculia, sendo eles:

 

- Escassa habilidade para contar: Resolvendo cálculos simples de forma lenta, dificuldade em contar por ordem decrescente;

 

- Dificuldade na identificação (visual e auditiva) dos números: Tendência esporádica para colocar os números na ordem errada

Exemplo: Em vez de "15" colocar "51";

 

- Dificuldades na compreensão: Símbolos, conjuntos, quantidades;

 

- Incapacidade para estabelecer uma correspondência recíproca: Associar um número à contagem de objetos, ou no transporte de números;

 

- Dificuldade nos conceitos de medidas: na aprendizagem das horas e também na compreensão dos valores das moedas

 

 

 

 

 

 

Segundo Sacramento (2008), existe uma distinção das aptidões expectáveis para diferentes faixas etarias, existindo dificuldades correspondentes a cada uma delas:

Idade

 

 

 

3-6 anos

Aptidões esperadas

 

  • Compreender os conceitos de igual/diferente, curto/comprido, grande/pequeno, menos/mais;

  • Classificar objetos pelo tamanho, cor e forma;

  • Reconhecer os números de 0 a 9 e contar até 10;

  • Reconhecer e reproduzir formas e figuras

Dificuldades

 

  • Problemas em nomear quantidades matemáticas, números, termos, símbolos;

  • Insucesso ao enumerar, comparar, manipular objetos reais e/ou mentalmente

6-12 anos

  • Agrupar obetos de 10 em 10;

  • Ler e escrever de 0 a 99;

  • Reconhecer o valor do dinheiro;

  • Saber dizer as horas;

  • Realizar operações matemáticas (soma/subtração/multiplicação/divisão);

  • Começar a usar mapas,

  • Compreender noções como metades, quartas partes e números ordinais

  • Leitura e escrita incorreta dos símbolos matemáticos (e todas as consequências que advêm daí

12 a 16 anos

  • Capacidade para usar números na vida quotidiana;

  • Uso de calculadora;

  • Leitura de quadros, gráficos e mapas;

  • Compreensão de conceitos como o de probabilidade;

  • Resolução de problemas

  •  Incompreensão dos conceitos matemáticos;

  • Dificuldade na execução mental e concreta de cálculos numéricos

Caracterização

 

As crianças com discalculia apresentam, em testes de inteligência desempenhos superior nas funções verbais comparativamente às funções não verbais, ou seja, têm um Q.I verbal superior ao Q.I não verbal. São, portanto, crianças que revelam um ritmo de trabalho muito lento, pois não têm  desenvolvido os mecanismos básicos necessários, como a tabuada e sequências decoradas, usando, muitas vezes, os dedos para contar.

Estas crianças costumam ser ansiosas, desmotivadas e têm receios de fracassar, consequência do menosprezo ou repressão por parte dos colegas de turma, professores e/ou pais/familiares.

 

 

Uma criança discalculática, apresenta assim dificuldades a vários níveis, sendo eles:

 

- Memorização: conceitos matemáticos, regras e/ou fórmulas demasiado exigentes para a memória que possuem;

Sequenciação: de números ou em dizer qual de dois é maior;

-Diferenciação: de esquerda/direita e de direções (norte/sul/este/oeste);

-Compreensão: de conjuntos (diferentes/equivalentes, maior/menor, mais/menos elementos);

-Compreensão: de palavras usadas na descrição de operações matemáticas como "diferença", "soma","total", "conjunto", "raíz quadrada";

-Tarefas: que implicam lidar com dinheiro, como por exemplo: estimar o custo total dos produtos no carrinho de compras;

Memorização:dos passos necessários para a resolução de um cálculo matemático;

-Resolução de operações matemáticas: através de um problema proposto (podem compreender a matemática representada por "3+2=5", mas são incapazes de resolver "A Maria tem três bolos e o João tem dois, quantos bolos têm no total?"

-Correspondência um a um/correspondência recíproca: contar objetos e associar um numeral a cada um, como por exemplo:não relacionam o número de alunos de uma sala à quantidade de mesas existentes);

-Orientação espacial: não sabem posicionar os números de uma operação e desperdiçam muito espaço da folha de papel, ou pelo contrário, limitam.se a um espaço reduzido, dificultando a perceção da tarefa;

-Compreensão de valor segundo a modificação de um algarismo: para muitas crianças é difícil compreender que os números "760", "607" e "706" são diferentes;

-Conservação de quantidades, apesar da evolução da idade, quando contam um conjunto de objetos, não conservam o total obtido e voltam a proceder à operação se questionadas sobre ele;

-Utilização do compasso ou calculadora: reconhecimento dos dígitos e símbolos matemáticos

 

 

 

 

Intervenção

 

A matemática é uma disciplina extremamente importante para o dia a dia, uma que se lida com números e realizam-se  cálculos em enúmeras situações do quotidiano. Deste modo, o primeiro aspeto a ter em conta com uma criança discalculática é fazê-la perceber o quão importante é para a sua vida futura.

 

Cada professor deve preparar um atendimento individualizado, o que exige um conhecimento o mais preciso possível da criança com quem vai trabalhar.

 

 

Casas (1988), refere dois aspetos importantes:

 

      1. Definição de objetos instruticionais: apropriados ao nível de capacidade da criança (identificar claramente quais são as capacidades e potencialidades da criança) e definição de objetivos específicos de acordo com esta informação;

 

      2. Análise das (sub) tarefas: exigidas para a realização de um exercício, com vista a perceber quais as habilidades que a criança domina/não domina;

 

O educador pode também recorrer à utilização de jogos e outros materiais que promovam a manipulação por parte da criança, sendo importante que ela possa observar, tocar, mexer num cubo, quando está por exemplo a aprender os sólidos geométricos.

Deve também premitir o uso da calculadora e a consulta da tabuada, pois estas crianças têm dificuldades ao nível da memória, desta forma podem ser capazes de resolver um exercício (raciocínio correto), mas incapazes de realizar as operações matemáticas para a sua conclusão.

O professor deve tentar perceber qual o raciocínio efetuado pela criança e a classificação atribuída deve também refletir o desempenho e não apenas o resultado final obtido (muitas vezes incorreto).

Deve-se também evitar destacar o aluno discalculático da turma em que ele insere, seja pelo facto de os corrigir sistemáticamente, ou, pelo contrário, por ignorar as dificuldades observadas, uma vez que já se sabe que ele nem sempre consegue acompanhar os conteúdos trabalhados pelos restantes colegas.

 

No que diz respeito à avaliação, as fichas deverão apresentar questões claras e diretas e quando tal não acontecer, deve-se permitir que a criança possa pedir ajuda a um colega/professor de ensino especial , para se certificar que a criança compreende a pergunta, além disso deve dar-lhe mais tempo para a realização dos exercícios e permitir até que os possa fazer oralmente, pois estas crianças podem apresentar dificuldades também ao nível da escrita.

 

 

Witzel, Smith &Brownell (2001), sugerem três importantes notas que podem ajudar na sala de aula:

 

-Começar a aula recordando os conhecimentos adquiridos na sessão anterior;

-Auxiliar na resolução de problemas, "pensando" em voz alta;

-Ajudar os alunos sempre que precisarem e solicitarem de ajuda.

 

 

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