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O que é a dislexia?

 

A palavra dislexia deriva dos conceitos dis (desvio) + lexia (leitura, reconhecimento das palavras)

 

A dislexia é caracterizada por dificuldades na correção ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência na leitura e na ortografia. Esta dificuldade resulta de um défice na componente fonológica da linguagem.

 

Pode surgir em crianças consideradas inteligentes, escolarizadas, que não tenham qualquer tipo de perturbação sensorial ou psíquica, sendo que a dislexia afeta portanto, a aprendizagem e utilização instrumental da leitura, resultando de problemas ao nível da consciência fonológica independentemente do (Q.I) que os indivíduos possam ter, ou seja, perceber, de forma, consciente, que os sons associados ás letras (grafema vs fonema) são os mesmos da fala e que estes podem ser manipulados.

 

 

Subtipos

 

A dislexia revela-se num grupo  bastante diversificado de crianças, pois se algumas são incapazes de ler, soletrando foneticamente todas as letras de uma palavra, outras podem revelar problemas de expressão e compreensão oral, existindo vários tipos de dislexia:

 

    1. Dislexia adquirida: O indivíduo, depois de aprender a ler, perde essa habilidade por consequência de uma lesão cerebral;

 

 

    2.  Dislexia evolutiva: O indivíduo revela graves dificuldades nas aprendizagem iniciais de leitura, não conseguindo soletrar, ler ou escrever com facilidade;

 

 

 

 

 

A dislexia evolutiva, pode ser classificada em três grupos:

 

 

    1. Dislexia disfonética ou auditiva: ocorre em crianças que apresentam uma dificuldade na integração de letra - som, revelando erros de discriminação auditiva, tendo dificuldades em ler palavras que não fazem parte do seu vocabulário, ou seja, desconhecidas;

 

      Exemplos: "Mulher" em vez de "senhora"

 

​   2. Dislexia diseidética ou visual: Ocorre em crianças com dificuldades em perceber globalmente as palavras, não conseguindo unir o conjunto de letras que as compôem, apresentando uma leitura lenta, soletrando e decompondo a palavra nos seus fonomas, ou seja, lêem fonicamente todas as palavras como se as tivessem a ver pela primeira vez;

 

     Exemplos: Trocar o "B" com o "V" - bolo em vez de lobo;

                   Trocar "em", em vez de "me" 

 

     3. Dislexia mista ou aléxica: Ocorre em crianças que apresentam, tanto problemas visuais como fonológicos, provocando uma quase total incapacidade para a leitura;

 

 

 Segundo vários autores, como Spear- Swerling & Stemberg, classificam os dislexicos quanto a forma da leitura apresentadno 4 padrões:

 

    1. Leitores não alfabéticos: Estes leitores não têm conhecimentos dos princípios alfabéticos e consequentemente revelam também problemas de compreensão;

 

      2. Leitores compensatórios: Estes leitores revelam dificuldades na descodificação das palavras, no entanto conseguem alcançar o conhecimento alfabético, podendo revelar contudo problemas de compreensão, pois usam o conhecimento visual de uma palavra ou o contexto de uma frase para chegarem a determinada palavra, desviando-se por vezes do real contexto das frases;

 

      3. Leitores não automáticos: Estes leitores têm um reconhecimento controlado das palavras, ou seja  conseguem descodificar as palavras de modo preciso, mas fazem-no com muito esforço;

 

      4. Leitores tardios: Conseguem adquirir habilidades para conhecer os vocábulos, mas com uma velocidade muito lenta e com esforço, normalmente estes leitores perdem-se ou atrasam-se em relação aos outros, pois enquanto os outros já estão preparados para usar a leitura como um mecanismo para adquirir novos conhecimentos, os leitores tardios, por outro lado ainda estão a esforçar-se para aprender as habilidades básicas de reconhecimento das palavras;

          

     5. Leitores sub-otimais: Estes leitores não conseguem alcançar uma leitura perfeita, no entanto conseguem reconhecer e compreender automaticamente palavras simples;

 

                   

Causas

 

Não existe uma causa exclusiva para a dislexia, a maior parte dos autores afirmam que se trata mesmo de uma pertubação de causas múltiplas.

 

Na área das genética há quem defenda que se trata de um problema hereditário, fundamentando isto mesmo dizendo que os disléxicos apresentam pelo menos um familiar próximo com dificuldades na aprendizagem, da leitura ou escrita: 30% ou 40% dos irmãos das crianças disléxicas podem apresentar a mesma perturbação e uma criança cujo projenitor seja disléxico, pode apresentar um risco superior de manifestar esta problemática.

Outros investigadores apresentam também as mutações de alguns cromossomas como a causa desta perturbação, nomeadamente nos cromossomas 6 e 15 e mais recentemente no cromossoma 2.

 

Há ainda autores que afirmam que a dislexia é mais comum em indivíduos de género masculino, estando o feto exposto a doses exageradas de testosterona durante a sua formação intrauterina - abortos naturais de fetos do género feminino, numa proporção variável entre 3 a 6 meninos para 1 menina.

 

 

Na área da neologia também têm surgido algumas conclusões, pois como se sabe as diferentes partes do cérebro desempenham funções específicas:

 

Área esquerda: responsável pela linguagem: nesta zona foram identificadas 3 subáreas distintas, uma delas processa fonemas, sendo a vocalização e articulação das palavras (região inferior frontal), a outra área analisa palavras, correspondendo grafemas-fonemas (região pariental-temporal), a última área reconhece palavras e possibilita a leitura rápida e automática (região ossipital-temporal)

 

 

Na área psicolinguística e segundo Sandrina Esteves - especialista no estudo da dislexia -  constata-se a evidência de que os indíviduos que apresentam atrasos na aquisição da linguagem, exprimentam dificuldades na  leitura com uma frequência 6 vezes superior, aqueles com o desenvolvimento normal. As crianças que revelam altos indíces de eficiência na linguagem oral, em idades precoces, apresentam maior probabilidade de se tornarem bons leitores.

 

 

Sinais de alerta

 

São os professores quem tem um papel principal na deteção precoce da dislexia, uma vez que são eles quem contacta mais diretamente com as crianças na altura em que estas estão a iniciar o seu processo de aprendizagem da leitura. Os encarregados de educação também desempenham um papel importante, pois é em casa que a criança exibe e treina as suas capacidades leitoras, adquiridas na escola.

 

No entanto, só uma equipa multidisciplinar especializada poderá fazer o diagnóstico correto, uma vez que os sinais de alerta apresentados por uma criança, são apenas indicadores que podem estar presentes numa criança com dislexia, podendo ser confirmados ou não.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nível do ensino

 

 

 

  - Pré-escolar             

1º Ano do primeiro ciclo do ensino básico

A partir do 2º ano do primeiro ciclo do ensino básico

Comportamentos observados

 

  • Início tardio no desenvolvimento da linguagem aos níveis, fonológico, articulatório e fluidez;

  • Problemas em seguir rotinas;

  • Início tardio da marcha;

  • Falta de habilidade para realizar algumas tarefas motoras (agarrar numa colher, chutar uma bola, atar os sapatos);

  • Atraso na estruturação e no conhecimento do esquema corporal;

  • Problemas de lateridade (confunde a esqueda com a direita);

  • Dificuldade em aprender poemas/cantigas simples;

  • Falta de interesse por rimas;

  • Dificuldade na aprendizagem das letras e na soletração;

  • Dificuldade no reconhecimento das letras do seu nome;

  • Falta de interesse por livros impressos;

  • Dificuldades motoras na execução de exercícios manuais de grafismos (preensão do lápis);

  • Dificuldade em noções temporais (ontem/hoje/amanha; antes/agora/depois);

  • Dificuldade em associar as letras aos sons (aprendizagem do alfabeto);

  • Dificuldade em ler palavras monissílabas e em soletrar palavras simples;

  • Compreensão verbal deficiente;

  • Fuga á atividade da leitura

Problemas na expressão oral

  •  Dificuldade na pronúncia de palavras longas;

  • Utilização de vocabulário reduzido e impreciso;

  • Incapacidade para responder a uma questão rapidamente;

  • Difiuldade na memorização de datas, números de telefone;

  • Dificuldade em compreender piadas/provérbios/gírias;

  • Dificuldades com sequências, como os dias da semana, meses do ano,tabuada;

  • Tendência para a escrita em espelho

Problemas na leitura

  • Leitura lenta, silábica, decifratória e cansativa;​

  • Dificuldades na leitura de palavras novas e/ou deconhecidas;

  • Nível de leitura abaixo do esperado para a sua idade;

  • Omissão/adição de letras/sílabas;

  • Substituição de palavras que não consegue ler, por palavras com o mesmo significado ("carro" em vez de "automóvel")

  • Falta de gosto por ler, baixa autoestima, sentimento de frustação;

  • Recusa na leitura em voz alta diante da turma;

  • Atenção instável

(Torres&Fernández, 2001: Shaywitz, 2008 e Silva & Denardi, 2011)

 

Caracterização

 

Na leitura oral:

- Têm dificuldade em selecionar as palavras adequadas para comunicar (tanto a nível oral, como escrito);

- Revelam pobreza de vocabulário;

- Elaboram frases curtas e simples e têm dificuldade na articulação de ideias;

- Repetem sílabas, palavras ou frases, o que também acontece na leitura;

 

 

Na leitura/escrita:

- Não gostam de ler e a leitura é lenta para a idade que têm;

-Fazem uma leitura defeituosa (lêm palavra por palavra, sílaba por sílaba ou reconhecem letras isoladamente sem conseguir ler)

- Na leitura silênciosa, murmuram ou movimentam os lábios;

- Perdem a linha de leitura (saltam ou retrocedem linhas);

- Tem dificuldade em aplicar o que foi lido a situações sociais ou de aprendizagem;

- Apresentam problemas de compreensão semântica (na interpretação dos textos);

-Revelam dificuldades acentuadas ao nível da consciência fonológica, isto é, na tomada de consciência de que as palavras faladas e escritas são constituídas por fonemas;

- Confundem letras, sílabas ou palavras com diferenças subtis de grafia: "a-o", "e-c", "f-t", "h-n", "i-j", "m-n", "v-u";

- Confundem letras, sílabas ou palavras com grafia similar, mas com diferente orientação no espaço: "b-d", "d-p", "b-q", "d-b", "d-p", "d-q", "n-u";

- Confundem letras que possuem um som de articulação comum e cujo os sons acusticamente próximos: "d-t", "m-b", "b-p", "v-f";

- Invertêm parcialmente ou totalmente sílabas ou palavras: "me- em", "sol-luz", "som-mos", "sal-las", "pra-par";

- Adicionam ou omitem sons, sílabas ou palavras: "fama- famoso", "casa- casaco", "prato-pato";

- Susbtituem ou criam palavras por outras de estrutura mais ou menos similar, porém, com o sginifcado diferente: "sou-tou", "sal-vou", "eram-ficaram";

-Têm muita dificuldade nas palavras homófonas: "paço-passo", "conselho- concelho", "acento- assento";

- Têm dificuldade na separação de palavras;

- Podem apresentar uma leitura e escrita em espelho: "p-q", "b-d";

- Copiam de forma errada as palavras, conhecendo o texto mas usando outras palavras involutáriamente;

- Na escrita espontânea (composições/redações), mostram severas complicações (dificuldades na composição e organização de ideias).

 

 

Outras competências:

- Apresentam dificuldades em guardar e recuperar nomes, palavras, objetos e/ou sequências ou fatos passados: letras do alfabeto, dias da semana, meses do ano, datas ou horários;

- Não conseguem orientar-se no espaço, sendo incapazes de distinguir, por exmeplo, a direita da esquerda (o que dificulta a orientação com mapas e globos);

- Têm dificuldade em aprender e recordar palavras visionadas (memória visual pobre, quando estão em causa símbolos linguísticos);

Têm dificuldade nas disciplinas de história (em captar as sequências temporais), de geografia (no estabelecimento de coordenadas) e de geometria (nas relações espacias);

- Têm dificuldade na aprendizagem de uma segunda língua;

- Apresentam, de uma forma geral, falta de organização;

-Apresentam falta de destreza manual e, por vezes, caligrafia ilegível;

- Poderão ter dificuldades com a matemática, sobretudo na assimilação de símbolos e em decorar a tabuada.

 

 

 

Intervenção

 

Nunca é tarde demais para ensinar disléxicos a ler e a processar informações. Embora não seja um uma situação reversível, é possível dotar os disléxicos de estratégias adequadas ao desenvolvimento da sua compreensão. 

A intervenção com crianças/jovens disléxicas exige assim: paciência, repetição e diversificação por vezes em simultâneo, pois é frequentemente necessário ter de recorrer a diferentes formas para trabalhar a mesma matéria quando se verifica que a criança não está a alcançar o que se pretende.

 

Qualquer professor pode começar por elaborar um plano de intervenção, delineando quais os objetivos, metas a atingir, planeamento de atividades específicas e adequadas ás capacidades e dificuldades da criança com a qual vai intervir, devendo ter presente que a intervenção deve ser feita gradualmente, ou seja, o plano definido deverá começar por objetivos, exercícios simples de alcançar, como por exemplo: ler um texto curto, de um livro apelativo e ir progressivamente aumentando o grau de dificuldade, apenas depois de ter sido verificado sucesso na aprendizagem anterior.

 

Deve-se também ter em atenção os níveis de autoconfiança e autoestima das crianças disléxicas: o educador/professor deve saber que o aluno  tendem a  comparar-se com os colegas aparentemente mais inteligentes e sentir-se frustadas por não conseguirem ser tão bem sucedidas. Este é um dos motivos porque em sala de aula muitos dos dislexicos podem passar despercebidos, passando por sossegados, tímidos ou pouco participativos e daí não serem desde cedo referenciados e alvo de uma intervenção especializada. 

 

Os alunos também devem ser responsaveis pela sua mudança, passando a motivação extrínseca (por parte dos cuidadores ou dos educadores/professores) a intrínseca - a vontade de aprender.  Perante o erro deve-se explicar-lhe porque errou e como evitar fazer novamente aquele erro, devendo começar-se por corrigir os erros mais relevantes à medida que for evoluindo, ir corrigindo os restantes, para possa progredir no futuro.

 

Na sala de aula, deve-se tentar colocar a criança numa mesa mais próxima do professor e não ao fundo da sala, para que possa ser auxiliada sempre que for caso disso, deve-se também incentivar a fazer perguntas e certificar sempre que se entendeu o que foi dito, uma vez que é habitual na faixa etária infantil dizer que "sim". Devem-se também reduzir os principais focos de distração, como por exemplo, algum colega mais conversador ou algum outro barulho que possa causar distração.

Por outro lado, quando se preparam os materiais necessários para a aula, deve-se fazer para os tornar interessantes e estimulantes, recorrendo por exemplo a imagens, forografias e outras ilustrações. Com as novas tecnologias muito patentes na nossa sociedade, surgem a cada dia novos programas que podem ser um bom recurso no que toca a ajudar estas crianças, No caso de existir algum trabalho que possam fazer, deverá surgerir-se o uso do corretor ortográfico, pois poderá ajudá-la na correção de alguns erros.

 

 

No momento da avaliação, para as crianças disléxicas devem ser evitadas questões longas e complicadas, pois o aluno pode demorar mais tempo a tentar compreender a pergunta, do que a dar a resposta, podendo por exemplo:

 

-Pedir auxílio para ler as perguntas, ao professor ou a um colega de turma;

- Deve-se evitar questões relacionadas com a memorização de listas de informação associadas com o texto lido, uma vez que a criança pode não conseguir responder questões ao nível da memória de curto prazo.

 

- Um teste com um menor número de perguntas poderá ajudar a criança na hora da avaliação, podendo inclusive ser priviligeada a avaliação oral, realizando a avaliação numa sala á parte (com a ajuda de um outro professor ou axiliar), gravando por exemplo as respostas dadas pelo aluno. 

 

 

 

 

 

 

 

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