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O que é a disgrafia?

 

A palavra disgrafia deriva dos conceitos "dis" (desvio) + "grafia" (escrita)

 

A disgrafia caracteriza-se por ser uma perturbação do tipo funcional que afeta a qualidade da escrita da pessoa, ou seja, afeta o seu traçado ou a sua grafia.

Uma criança com disgrafia tem por isso tendência a apresentar uma escrita desviante em relação à norma/padrão, isto é, uma "caligrafia deficiente", com letras pouco diferenciadas, mal elaboradas e mal proporcionadas, ou seja, a chamada "letra feia". Para o disgráfico, a escrita é uma tarefa muito cansativa, o que se reflete diretamente na sua autoestima.

 

 

 

O distúrbio disgráfico deve ser portanto entendido tendo em conta vários contextos:

 

      1. Contexto neurológico relativo ás afasias (perda ou diminuição da capacidade para usar ou compreender palavras, devido a uma lesão cerebal, que na maior parte das vezes ocorre do lado esquerdo do cérebro): As alterações verificadas neste contexto, manifestam-se ao nível da escrita;

 

     2. Abordagem funcional da disgrafia: Perturbações que não estão relacionadas com alterações cerebrais ou sensoriais, mas com problemas de ordem funcional;

 

   3.Capacidades psicomotoras gerais: Dentro deste contexto está por exemplo ter uma boa coordenação óculo-manual, um desenvolvimento correto da motricidade fina e uma capacidade de inibição e controlo neuromuscular, para que se possam realizar movimentos finos e precisos que exigem o desenho gráfico das letras;

 

      4.Coordenação funcional da mão: Este contexto aborda os movimentos de pressão e preensão e da independência mão-braço;

 

     5. Hábitos neuromotores corretos e bem estabelecidos: Este contexto aborda a visão, a transcrição da esquerda para a direita, o posicionamento correto/útil do lápis (encontrar a forma menos cansativa de segurar o lápis)

 

 

 

Subtipos

 

A maioria das classificações de disgrafia distingue, fundamentalmente, dois tipos: 

 

Disléxico: Onde a criança não consegue estabelecer uma relação entre o sistema simbólico e as grafias que correspondem os sons, às palavras e frases, comentendo erros semelhantes aos das crianças disléxicas, mas ao nível da escrita;

 

Motor: Onde são cometidos erros que afetam a forma e o traçado da grafia, a criança consegue ler e falar, mas encontra dificuldades na coordenação motora fina, necessária para escrever as letras e as palavras, ou seja, a criança vê a figura gráfica mas não consegue realizar os movimentos para a reproduzir no papel.

 

Para além destas classificações apresentadas por (Torres &Fernández, 2001), e(Pérez 1985 e Citoler 1996), apresentam outras duas que têm como base os fatores envolvidos na etiologia da disgrafia.

 

Disgrafia de desenvolvimento ou primária: Nesta classificação a criança apresenta uma letra defeituosa com origem de tipo funcional de maturação;

A criança depois de aprender a escrever corrretamente, perde essa habilidade devido a uma lesão neurológica;

 

 

 

Disgrafia sintomática: Nesta classificação a grafia imperfeita deriva da alteração de fatores de natureza motora, ou seja, trata-se de uma manifestação sintomática de uma perturbação de importância superior;

 

Nesta disgrafia existe uma incapacidade para a aprendizagem inical da escrita sem uma razão objetiva para que tal aconteça, sendo que as crianças têm um Q.I normal, processos perceptivos e motores corretos, escolarização adequada, mas apresentam características disgráficas.

 

 

A disgrafia sintomática, está ainda relacionada com:

 

Disgrafia superficial- Baseada na dificuldade de aquisição da via ortográfica que fomenta erros nas palavras irregulares e nºao familiares;

 

Disgrafia fonológica- Baseada na dificuldade de aquisição da via fonológica, o que provoca erros de correspondência fonema- grafema;

 

Disgrafia mista- Baseada nas dificuldades de ambas

 

 

 

Causas

O estudo das causas da disgrafia é complexo, pois são muitos os fatores que podem levar a uma escrita alterada, podendo existir três tipos de causas, segundo Torres &Fernandéz (2001):

 

    1. Causas maturativas: Estas causas estão relacionadas com perturbações de lateralidade e de eficiência psicomotora (motricidade, equilíbrio). Estas crianças são geralmente desajeitadas do ponto de vista motor (com idade motora inferior  à idade cronológica e apresentam uma escrita irregular ao nível da pressão, velocidade e traçado,bem como perturbações de organização percetivo-motora, estrturação/orientação espacial e interiorização do esquema corporal;

 

     2. Causas carateriais: Estas causas estão associadas a fatores de personalidade, que podem consequentemente determinar o aspeto do grafismo (estável/instável, lento/rápido) e também a fatores psicoafetivos, pois o sujeito reflete na escrita o seu estado e tensão emocionais;

 

     3. Causas pedagógicas: Estas causas poderão estar relacionadas, por exemplo, com uma instrução/ensino rígido e inflexível, como a mudança inadequada de letra de imprensa para letra manuscrita ou vice versa e ou uma uma enfase excessiva na qualidade ou rapidez da escrita;

 

 

Em 2003 Cinel, apresentou  outro conjunto de causas promotoras da disgrafia:

 

- Distúrbios da motricidade ampla e fina: Estes disturbios estão relacionados com a falta de coordenação entre o que a criança se propõe a fazer (intenção) e o que realiza (perturbações no domínio do corpo). A criança deverá saber orientar-se no espaço e ter uma boa independencia ombro-braço, braço-mão, mão-dedos (motricidade fina);

 

- Distúrbios na coordenação visuomotora: Estes distúrbios estão relacionados ao acompanhamento (visual) do movimento dos membros superiores e/ou inferiores. A criança deverá focalizar visualmente o que está a escrever e ter em conta o "alvo" (limite da folha), a atingir,

 

- Deficiência na organização temporo-espacial: Estes distúrbios estão relacionados com a capacidade de se orientar no espaço (direita/esquerda, frente/atrás/lado) e tempo (antes/depois), ou seja ser capaz de executar corretamente as letras (evitar inversões/combinações silábicas) e utlizar a folha de papel (respeitar as linhas e as margens);

 

-Problemas na lateralidade e direcionalidade:

 Estes problemas estão relacionados com lateralidade mal estabelecida, que poderá ser a ausência de definição da dominância (mão direita/esquerda) ou outras dificuldades como a inversão ou confusão de grafismos parecidos, mas com orientação espacial diferente (b/p - bato/pato);

Sinistrismo ou canhotismo, que esta relacionado com a dominância do uso da mão esquerda (a eficência da mão esquerda nas crianças canhotas é inferior á da mão direita nas destras, tanto pela velocidade quanto pela precisão);

A lateralidade cruzada está relacionada com a dominância da mão direita em conexão com o olho esquerdo ou vice versa. este tipo de lateralidade heterógenia tem sido estudados por muitos investigadores, mas as conclusões são divergentes: levanta-se á hipotese de causar desiquilibrios motores e outras perturbações, que dificultariam a aprendizagem e o desenvolvimento dos atos de escrever e também de ler;

Sinistismo ou canhotismo está relacionado com a dominância da mão esquerda, mas uso forçado e imposto da mão direita, afirmando alguns autores que este tipo de crianças tendem á apresentar o traçado gráfico que conhecemos como escrita em espelho.

 

- Erros pedagógicos: Estas causas estão relacionadas com falhas no processo do ensino, estratégias inadequadamente escolhidas pelos docentes ou mesmo desconhecimento deste problema, assim, quando um professor ensina a escrever, deve preocupar-se não apenas com a ortografia, mas também  com a sua  legebilidade, isto é, com a forma correta das letras (se o aluno não fecha o círculo do "a", por exemplo, pode ler-se "c", ou "e", ou "u" e também com a uniformidade (ha letras cujo tracejado sobre  e outras que desce- "b", "d", "h", "k","l"; "t"/ "g", "j", "p", "q", "y", "z"/ "f"), com o espaçamento (entre letras, palavras, frases) e com a inclinação, da folha de papel, por exemplo (ligeiramente inclinadas para a esquerda, para os destros, ou para a direita, no caso dos esquerdinos- que vai influenciar, previsivelmente, a caligrafia apresentada)

 

 

Sinais de alerta

 

Para diagnósticar precocemente a disgrafia, não é uma tarefa fácil, pois praticamente todas as crianças revelam alguma dificuldade durante o seu processo de aprendizagem da escrita. No entanto, há um conjunto de indicadores que podem auxiliar pais e educadores em geral ,nessa tarefa:

 

- Traçados exageradamente grossos ou finos e pequenos ou grandes;

- Ritmo de escrita excessivamente rápido ou lento;

-Letras separadas, sobrepostas ou ilegíveis, com ligações distorcidas;

- Postura gráfica incorreta (dificuldade em utilizar corretamente o lápis/caneta com que escreve);

- Caligrafia, geralmente, inclinada

 

Deve-se ter em atenção que a confirmação do diagnóstico requer um conjunto de procedimentos muito específicos, devendo ser realizada por profissionais especializados.

 

 

 

Caracterização

 

Existem caracteristicas comuns ás crianças que têm disgrafia, contudo, é importante saber que a apresentação de apenas um ou dois comportamentos que se seguem não é suficiente para confirmar esta problemática, a criança deverá relevar o conjunto de indicadores para confirmar esta problemática (ou quase a totalidade) das seguintes condições:

 

- Letra excessivamente grande (macrografia) ou pequena (micrografia);

- Forma das letras irreconhecível (por vezes distorcem, inclinam ou simplificam tanto as letras que a escrita é praticamente indecifrável);

- Traçado exagerado e grosso (que vinca o papel) ou demasiado suave e imperceptível;

-Grafismo trémulo ou com uma marcada irregularidade, originando variações no tamanho dos grafemas;

- Escrita demasiado rápida ou lenta, devido à incapacidade para recordar o traçado das letras e/ou a uma preocupação predominante com uma boa forma (excessivo respeito pelas indicações dadas pelo professor);

- Espaçamento irregular das letras ou das palavras, que podem aparecer desligadas, sobrepostas ou ilegíveis ou, pelo contrário demasiado juntas (consequência do desconhecimento das mesmas ou dos erros que executa nos movimentos necessários- rotação do pulso);

-Erros e borrões que quase não deixam possibilidade para a leitura da escrita (embora as crianças sejam capazes de ler o que escrevem);

- Realização inversa dos traçados de algumas letras/números (no sentido dos ponteiros do relógio ou de baixo para cima);

- Desorganização geral na folha, por não possuirem orientação espacial, e /ou desorganização do texto, pois não observam a margem (parando muito antes ou ultrapassando) ou a linha  demarcada para a escrita (subindo e descendo irregularmente);

- Utilização incorreta do instrumento com que escrevem.

 

 

 

Intervenção

 

Para ajudar uma criança com disgrafia, ou que possua qualquer outro disúrbio de aprendizagem, é necessário implementar-se uma estratégia de intervenção individualizada. Deve procurar-se estabelecer uma boa relação com a criança e fazê-la perceber que a presença do educador é importante para a apoiar quando precisar, além disso a criança deve encontrar em si um amigo/a.

É  fundamenteal saber/sentir quanto e qual a ajuda que deve providenciar a cada momento não deixando de elogiar a criança pelo seu esforço, mesmo que os resultados nem sempre estejam de acordo com o esperado, no entanto deve também ter a capacidade de perceber quando a criança revela desmotivação e desinteresse e, se necesário alterar a intervenção, adequando procedimentos, visando incentivar a criança, pois, na maior parte das ocasiões, a má prestação é sobretudo de quem intervém, que poderá ser uma consequência da utilização de estratégias/métodos insuficientemente atrativos e interessantes.

 

Se é professor, deixe, que a  criança se expresse livremente num papel, sem a corrigir nem atribuir uma classificação, vai ver que ela o pode supreender. 

O reforço positivo da caligrafia da criança é também outro aspeto que poderá implementar, uma vez que se devemos lembrar que a criança se esforça bastante para conseguir escrever corretamente e mesmo que não observe grandes progressos, deve elogiando os escassos resultados que poderá ter.

 

Quanto ao processo de avaliação, deve-se previligiar acima de tudo a expresão oral, solitando por exemplo a colaboração de um professor ou de uma auxiliar para gravação vídeo ou aúdio das respostas do aluno ás questões da ficha de avaliação, assim poderá corrigi-las posteriormente quando a correção das questões da restante turma.

 

Quando aos aspetos relacionados com o grafismo, o educador deve preocupar-se com o aperfeiçoamento das habilidades relacionadas com a escrita, distinguindo atiuvidades picográficas (pintura, desenho, modelagem) e escriptugráficas (utilização do lápis e do papel- melhorar os movimentos e posição gráfica), deve-se também corrigir os erros específicos do grafismo, como a forma/tamanho/inclinação das letras, o aspeto do texto, a inclinação da folha e a manutenção das margens/linhas.

 

O educador poderá realizar atividades que promovam a distensão motora e a comodidade de movimentos, visando a melhoria da postura, o controlo do gesto (exercícios de pintura, desenho livre, traçado de arabescos, contorno/preenchimento de fíguras) e às posições gráficas (exercícios de grandes traços deslizantes e de progressão cinética dos movimentos de escrita, como grafismos da esquerda para a direita, rotações, formas ascendentes e descendentes).

 

É também importante treinar aspetos psicomotores e aspetos relacionados com o grafismo, existindo a necessidade de implementar técnicas de relaxamento global e segmeemntar, que podem ajudar a criança a reduzir os índices de ansiedade, stress, frustação e também baixa autoestima. Uma vez que estas crianças, na sua generalidade, são tímidas, sossegadas (mas inquietas internamente), com motivação/interesse pela escola reduzidos e com baixos níveis de autoestima e autoconceito.

 

 

 

 

 

 

 

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